tu te mostras a mim numa forma agressiva. não — não te mostras, estás apenas ao alcance da possibilidade. vejo teu silêncio ao fundo, radiante e frouxo. segredo. mantém-se porque falta escuta. diga-me, então — mas com o olhar. transmita a mim sem palavra. mostra pelo olhar — dizer te afasta... mas basta retribuir e recuo, constranjo, envergo. silencio. estabelece-se, após, um jogo de olhares que é momentaneamente fictício. momentaneamente porque no olhar seguinte já é momento de novo. tu te mostras na possibilidade: afirmo deste modo pois assim te controlo em mim. sonho. controlo então teu olhar, teu silêncio e tua presença sem medo, pois, que saibas. e ainda não sabes. sou em nós, em retas — em ti. vazo. justamente porque vazar é uma forma de fugir ao redor, e assim te alcanço sem limite. não suporto a possibilidade. como de costume, transformo-a em conceito. recorro a ela sem sustentar sua leveza. há de parecer qualquer coisa que falte, quando é, afinal, excesso. excesso de... distância. como acompanhar o movimento das nuvens enquanto ando: tua distância só é vista se eu a procuro; de resto tu caminhas junto a mim sem encontro, apenas no tempo. caminhas mantendo-me em paralelo e relutante. hei de manter-me ao alcance sem que seja agressão, apenas escuta. abro mão da distância por um grão do teu silêncio. vejo-te.
