estou procurando, estou procurando. estou tentando entender. tentando encontrar as palavras que sobreviveram à onda. tentando encontrar os restos daquilo que parecia ser um mergulho infinito na maré mesma — na maré que se diz rio. onda que fez transbordar meus limites; preencheu com água e ressecou com sua salinidade. trouxe consigo o que se despeja no mar: a âncora. o repuxo levou todo o sentido. sinto o vazio da fantasia em que eu me preenchia. procuro nas areais e não acho. ao fundo, a camisa arrancada pela maré, mas que se encontra guardada em meio a outras. é inútil confrontar a correnteza que a levou. olhar o mar sem me preocupar com a exatidão da palavra; sem a pretensão de elaborar uma filosofia qualquer — não se controla as ondas. movimento sutil de ilusão: deixar-se ir com o repuxo e se convencer de que a onda não está indo embora — ela está me convidando! me convidando a mergulhar no oceano que é a falta de garantia. sua sedução talvez seja essa: o convite ao mergulho. mas que talvez não funcione quando os pés estão firmes. a paixão faz os pés perderem sua firmeza. observar o mar daqui de fora me faz entender que mergulhar é uma escolha, e que as ondas também são escolhas: seu impacto não pode ser justificado pela impulsividade. nem pela falta das palavras — elas deveriam ter avisado antes da onda chegar.
